BCE Alerta para Impacto das Políticas Comerciais dos EUA na UE

 

27 de dezembro de 2024 – por Matheus Fernandes (Fortuna Evolutiva)


 

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, advertiu que as mudanças nas políticas comerciais dos Estados Unidos podem ter repercussões significativas na economia da União Europeia. Este cenário poderá materializar-se caso o recém-eleito presidente dos EUA, Donald Trump, implemente as promessas feitas durante a campanha eleitoral.

Num discurso em Vilnius, por ocasião do 10.º aniversário da adesão da Lituânia à Zona Euro, Lagarde destacou que a imposição de tarifas comerciais pela nova administração americana, combinada com tensões geopolíticas, poderá desacelerar ainda mais o crescimento económico, aumentar os custos de energia e transporte e pressionar as economias europeias.


BCE Considera Novos Cortes nas Taxas de Juro

Lagarde reafirmou o compromisso do BCE em reduzir as taxas de juro, caso a inflação continue a afastar-se do objetivo de 2%. Apesar de a inflação ter caído para 2,3%, um valor substancialmente inferior ao pico de 10,6% registado no final de 2022, as preocupações com o crescimento económico persistem. A zona euro deverá crescer apenas 0,8% em 2024 e 1,3% em 2025, segundo previsões da Comissão Europeia.

Após o quarto corte de taxas de 2024, anunciado na semana passada, Lagarde reiterou que o BCE continuará a agir com base nos dados económicos. Contudo, destacou a existência de riscos tanto ascendentes como descendentes. Entre os riscos de subida, mencionou o impacto de aumentos salariais desproporcionados ou lucros empresariais elevados que não compensem os custos do trabalho. Já entre os riscos de descida, salientou os potenciais efeitos das alterações nas políticas comerciais americanas.

Em Vilnius, a presidente do BCE também deixou sinais de uma possível transição para uma política monetária mais neutra, sugerindo que as taxas “suficientemente restritivas” podem já não ser necessárias.


Incertezas Internas e Externas na Europa

A possível introdução de novas tarifas pelos EUA está a gerar preocupação entre os líderes empresariais europeus, dado o impacto significativo que as exportações têm no crescimento e no emprego na região. No entanto, os desafios internos da Europa também contribuem para o clima de incerteza.

Na França, a demissão do primeiro-ministro Michel Barnier, após uma moção de censura, deixou o país sem governo efetivo até às eleições previstas para junho. A ausência de uma maioria parlamentar torna difícil a resolução do défice orçamental francês. Na Alemanha, a dissolução da coligação governamental em novembro levou à convocação de eleições nacionais para fevereiro, o que significa que a maior economia da zona euro também enfrentará meses de negociações políticas até à formação de um novo governo.

Com as duas maiores economias da zona euro politicamente instáveis, a União Europeia entra em 2024 num cenário de desafios tanto internos quanto externos, que poderão testar a capacidade da região para manter a estabilidade económica e política.